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Brasil: sonho haitiano das terras douradas

Com país devastado, estrangeiros procuram recomeço em outras nações.





O sol se esconde atrás das montanhas de Porto Príncipe, no Haiti. As escolas e o comércio se preparam para encerrar mais uma tarde. O que seria um dia normal se transforma num pesadelo. 16h56min, 12 de janeiro de 2010, a terra treme. Um minuto e a força é capaz derrubar o país e o deixar sobre escombros.


A poeira se espalha. Gritos ecoam pela cidade. Nenhuma oração para confortar. Apenas dor, desespero. Mais de 316 mil mortos de acordo com o primeiro-ministro do Haiti, Jean Max Bellerive.

Medo. O estudante Anouce Louis, 26, ficou em pânico. “Estava dormindo no momento do tremor. Não entendia o que estava acontecendo. Foi muito rápido. Alguns parentes morreram”, lamenta Anouce Louis.

Outubro de 2012, o furacão Sandy chega e provoca inundações. Com o país destruído, falta de emprego, miséria e doenças, haitianos têm esperança de conseguir um novo lar em outras nações.

Louis é um deles. Chegou a Rio do Sul em novembro de 2014. Deixou a família no Haiti e veio em busca de uma vida melhor. “Estava no Rio grande do Sul e um amigo trabalhava no frigorífico daqui e me chamou para trabalhar”, conta o estudante.

Louis estuda Engenharia Civil e não pensa em retornar para o país de origem. “Sinto saudade da família, no momento não quero voltar. Vou estudar e conhecer o mundo”, acredita.

Assim como Louis, mais de 43 mil haitianos passaram pela principal rota de entrada no Brasil, o Acre. Os dados são da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos.

Jony Doresthan, 37, também deixou o Haiti. Escolheu Pouso Redondo, em busca de uma vida menos sofrida. Doresthan está no Brasil há quase dois anos. Rio do Sul foi a primeira cidade que morou. Trabalhou três meses. Depois foi para Pouso Redondo, onde é carregador de alimentos em uma
cooperativa.

Doresthan tem esposa e é pai de três filhos. A saudade da família que mora no Haiti é de doer o coração. Sempre quando pode envia dinheiro para eles. Conforme a secretária da cooperativa Kátia Klegin, o haitiano é um ótimo funcionário, sempre chega no horário. Ela diz que Doresthan não se
sente confortável sendo tratado de forma diferente em relação aos demais funcionários: “No início, quando tínhamos três funcionários haitianos, a gente dava um café da manhã para eles porque tínhamos pena, mas com o tempo eles começaram a recusar”, explica Kátia.

Além de Jony Doresthan, há o haitiano Nixon Zamor. Eles trabalham quase um ano e meio na cooperativa. Doresthan fala com certa fluidez o português por saber o espanhol. Zamor pouco entende. Por essa razão Doresthan auxilia o colega na comunicação, tanto no período de trabalho
quanto, por exemplo, no momento de fazer compras no supermercado.

Em busca das terras douradas os haitianos vão vivendo no Brasil, mas Doresthan lembra que quando possuir dinheiro suficiente para percorrer os aproximadamente 5.600 km voltará para o lado da família no Haiti.
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